segunda-feira, 9 de julho de 2007

Soneto á la Hakais




Uma das minhas grandes paixões literarias são os Haikais. Pra quem não conhece, vai se apaixonar: são estrofes, de metrica fixa, de 3 linhas. De origem japonesa do seculo XVI, ela é ultra resumida. Parte do pressuposto que o que precisa-se entender pode se colocar em 3 linhas e nada mais.
É uma das formas de poesia mais complicada que pode existir, fica "pau a pau" com a epoca do parnasianismo,mas pra mim o Hakai ganha em beleza, estetica e direção.
Aqui eu faço uma junção dos haikais que eu gosto, tentando fazer algum sentido entre ele...tentando apenas.

outono
outrora
era outro

Solidão de outubro:
folhas varridas no vento
levam meu recado.

Coruja na cumeeira
arrepia no seu canto –
a viúva reza.

nuvens brancas
passam
em brancas nuvens

Por entre a neblina
Subindo a Serra Vernal
Bisbilhota a Lua.

Sobre mim a lua.
Lá atrás das altas montanhas
outro deve olhá-la.

Noites sem cigarras –
qualquer coisa aconteceu
ao universo.

O silêncio, sim,
interrompendo o canto
dos pássaros.

sol atrás da cortina
dizendo baixinho:
— já é dia

o dia abre a mão
três nuvens
e estas poucas palavras

Apenas os bastões dos peregrinos
Se movem através
Do campo de verão.

tão longa a jornada!
e a gente cai, de repente,
no abismo do nada

é meu conforto:
da vida só me tiram
morto


Bom é isto... espero que gostem

Musica: 1974 way for Home - Mondo Grosso
Comentários: Quem não conhece Mondo Grosso,definitivamente nunca leu encarte de cd.
Mondo Grosso, ou Shinichi Osawa como queiram, é um dos maiores produtores japoneses. E não é porque ele esta lá do outro lado do mundo que não dá pra conhecer ele. Fez diversas parceiras, na qual se perde a conta, incluso brasileiros. Mais conhecido e badalado do que arroz de festa, e brigadeiro em festa de criança. Tem a mesma conotação de um Timberland nos EUA, e Ronaldo Bastos no Brasil.
Sua area é o acid jazz e experimental. O cara é mais versátil do que camisa branca na hora de se vestir. Ele não só é um senhor compositor e baixista, como faz remixagens primorosas, como no cd incrivel de lançamento de Eri nobuchika, de talento incontestavel.
Mas esta musica é quase que um choque pra quem conhece tanta versatilidade dele.
Calma, serena, sem firulas. Um convite pra sentar na janela do segundo andar, num dia nublado baixo, daqueles nublados de meio de mata de manha cedo, vendo o sol se esforçar pra romper.Acompanhado de um bom chá verde, quentinho...
Faz você se lembrar de uma infância,em velocidade bem lenta, quadro a quadro.
Pra quem é músico profissional, necessariamente vai lembrar aquela primeira musica que sempre se faz antes de começar os ensaios, numa de esquentar os equipamentos, acertar os volumes.
Apesar de tão simples e delicada, seus acordes menores não são tão pesados, a ponto de levar a uma depressão natural causada por eles.O ritmo lento, não de marcha funebré,mas sim de embalo para fazer criança dormir.
Leva sim, a um estado de contemplação, de sorriso infantil, de inconsequencia juvenil.
O ritonelo, que se percebe com clareza, não se torna chato pois o baixo dá uma cara muito impar a música, e o compasso da bateria sempre dá uma trocadinha, entre um ritonelo e outro.
Bem, é a minha preferida pra relaxar na rede, vendo o céu com nuvens, sonhando em um dia voar...

Link:
http://www.4shared.com/file/16167736/e04a491e/Mondogrosso-1974wayhome.html

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